sexta-feira, 15 de junho de 2012

O que significa ser médico?


                Certamente um estudante de medicina não saberia responder esta pergunta porque ainda não é médico. Por outro lado, será que existe uma única resposta para esta pergunta?

       A resposta que cada um vai dar um dia para esta pergunta será construída ao longo dos anos de estudo e atuação profissional assim, mesmo que um estudante de medicina ainda não saiba responder categoricamente essa pergunta, todos que estamos nos tornando médicos estamos construindo esta grande resposta.
                

          Logo no primeiro contato com o curso de Medicina da UFSCar, nos é apresentado um grande pilar da nossa formação: “Nós seremos capacitados para cuidar de pessoas e não de doenças”
       
       Sem dúvida este pilar fará diferença na forma como nos envolveremos com a medicina. Uma das propostas do curso é melhorar a saúde da cidade de São Carlos, local onde o curso está estabelecido, para isso nós alunos somos mais do que meros aprendizes, somos agentes no nosso processo de formação e do processo de melhoria do sistema de saúde municipal. Nós atuamos e aprendemos nas unidades de saúde da cidade. Nós cuidamos de pessoas reais desde o primeiro ano de faculdade e somos ensinados a estabelecer vínculos verdadeiros com estas pessoas.

              Muitos estudantes de medicina vieram de outras cidades. Após alguns meses de curso já podemos ver os alunos dizerem com orgulho que moram em São Carlos. Quando fizemos a primeira visita à nossa unidade de saúde, onde trabalharemos durante a maior parte do curso, foi nítido o sentimento de carinho desenvolvido. Não importa se a unidade tem paredes caindo, se o espaço precisa de melhorias ou se faltam profissionais, entendemos que fazemos parte disso agora e também está no nosso dever (e querer), melhorar o que for possível. Se for preciso conversar com os políticos que podem ajudar, vamos conversar, por que não? Se for preciso pedir ao prefeito que dê mais atenção ao processo de ampliação das unidades de saúde na cidade, vamos entrar em contato com ele e deixa-lo saber das necessidades que enxergamos!
                O curso de Medicina da UFSCar vai ser um dos melhores cursos de medicina do Brasil e grande parte disso se deve à forma como nós alunos construímos a resposta para a pergunta: “O que significa ser médico?”

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Hospital Escola Municipal

      Situado á beira da Rodovia Washington Luís, em frente à UFSCar, é possível ver a construção moderna e imponente do Hospital Escola de São Carlos.
Visão da entrada do Hospital Escola

   Sua arquitetura ousada não se deixa passar despercebida por quem viaja pela rodovia. O projeto completo ainda não foi concluído. 
Visão da Rodovia Washington Luiz

    O primeiro módulo está em operação, funcionando em regime de pronto atendimento. A sessão de internação e o centro cirúrgico estão em fase de acabamento.
Solário agregado ao prédio de internação para que os pacientes possam tomar sol
     O Curso de Medicina da UFSCar foi concebido dentro de um contexto de parceria com a Prefeitura Municipal de São Carlos e uma das premissas do curso é alavancar um processo de renovação da Saúde no município.  A universidade recebe suporte da Rede de Saúde Municipal para desenvolver o ensino médico na realidade das Unidades Básicas de Saúde, nas Unidades de Saúde da Família e no Hospital Escola. Em contrapartida, a população do município recebe um cuidado de saúde pautado nos princípios mais modernos e evoluídos, devido a ação de professores/pesquisadores e alunos da universidade.


      Na prática, nem tudo são flores. Como todo planejamento complexo, nem tudo sai de acordo com o que foi colocado no papel. Toda mudança estrutural gera conflitos e leva tempo. Para oferecer uma saúde de qualidade à população de São Carlos, algumas barreiras precisam ser derrubadas e o tempo para isso nem sempre atende aos interesses políticos.

      Estar em um curso que deseja avançar e melhorar sempre, requer dos alunos a capacidade de se organizar e trabalhar como grupo. Quando tomo conhecimento do conteúdo das disputas que ocorrem em nome do Curso de Medicina da UFSCar, sinto que teremos um dos melhores cursos de medicina do país. Quando me envolvo com os meus amigos nestas questões, vejo isso se tornando realidade. 

     Nós sabemos que médicos todos seremos, essa não é a questão. Quando você olhar as questões envolvidas no desenvolvimento do curso, descobrirá que queremos mais, muito mais!

Treine com atores e cresça gradativamente

      "Nesta atividade vocês irão simular a prática profissional com atores. Todos eles estão treinados para reagir como um paciente e nada do que você fizer causará dano a este profissional. Fique tranquilo e aproveite o momento para aprender"

      Este foi o resumo da instrução que recebemos no ínicio da atividade conhecida como Estações de Simulação. Toda semana temos uma atividade que nos permite trabalhar com atores treinados, que têm um texto a ser desempenhado. A prática de Simulação acompanhará a nossa formação até o 4º ano e seu nível de complexidade e abrangência do ser humano aumenta gradativamente.

      Nunca imaginei que fosse tão difícil sentar-se diante de alguém e investigar a história desta pessoa em busca de elementos fundamentais à um bom diagnóstico. Em uma das pesquisa realizadas dentro do curso, encontrei um dado que apontava 85% de diagnósticos bem sucedidos tendo como base um bom processo de investigação com o paciente. Muitos dizem que apenas a prática é capaz de forjar bons investigadores clínicos e neste aspecto as Estações de Simulação dão um tiro certo quando nos colocam nestes cenários desde o primeiro ano, quando supostamente ainda não sabemos nada.

     "Não saber nada" é bastante radical, com as Estações de Simulação passamos a conhecer nossos limites e ao invés de tentarmos esconde-los, colocamos todos eles na mesa e passamos a olha-los mais de perto. Se você tiver a oportunidade de vir estudar aqui, você sentirá a mensagem: "Fique tranquilo e aproveite o momento para aprender".


    

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Aprendizagem baseada em problemas

     Quando pensamos em Medicina, pensamos nas aulas de anatomia, de fisiologia e no tamanho da memória dos estudantes que deverão lembrar os nomes das estruturas e dos processos do corpo humano para fazer as provas. Entrar em contato com um curso que trabalha a aprendizagem por meio de problemas significa entrar em um novo universo.

     Imagine um ensino médio em que você não tem "aulas" mas encontros em grupos de 10 alunos sentados em torno de uma mesa oval, como aquelas mesas de reunião que vemos nos filmes. Junto com estes 10 alunos vamos colocar um especialista em problemas que irá propor a seguinte situação.

     Uma cidade de 10 mil habitantes, localizada à margem do Rio Tacunã, tem sua economia baseada na agropecuária. Com a expansão desta atividade, o abastecimento de água da cidade, que utiliza o Rio Tacunã, ficou comprometida. A água passou a apresentar altos níveis de contaminação porque o gado invadia a margem do Rio para beber água. Os gastos com saúde no município aumentaram muito.

      Depois de lido o caso, o papel dos alunos era levantar os problemas relacionados à situação descrita. Alguns problemas foram facilmente apontados, outros exigiram a intervenção do facilitador.

      "O aumento de casos de doenças, tem impacto sobre os impostos?"
      "A invasão da margem gera algum outro problema?"

      Os alunos teriam liberdade total para discutir os aspectos geográficos, biológicos, sociais, químicos, históricos e muitos outros relacionados à situação. Muitos dos pontos levantados geram uma situação de desconforto. Veja dois exemplos de perguntas que podem surgir na discussão dos alunos:

          "Que tipo de doença alguém pode contrair bebendo água contaminada pelo gado?"
          "Quais os fenômenos físicos e químicos associados ao processo de purificação da água?"

         Neste primeiro momento, não haverá resposta, haverá apenas o desconforto causado pela falta do conhecimento. Após este encontro, fica combinado que os alunos terão 3 dias para buscar informações em diversas fontes com o intuito de eliminar as lacunas que surgiram. Depois desta busca de 3 dias, haveria um novo encontro em que os alunos apresentariam os resultados de suas pesquisas e construiriam juntos o conhecimento para resolver a situação problema apresentada.

            Imagine um Ensino Médio inteiro sendo feito deste modo. Será que daria certo? Será que ao final o aluno seria capaz de resolver uma equação de 2º grau, ou reconhecer um poema do trovadorismo? Nesta estrutura ele não teria aulas de Matemática ou Literatura, como garantir que ele aprenderia o conteúdo? O principal indicador de aprendizado deste aluno, seria a capacidade desenvolvida para aprender e utilizar o conhecimento. Muitas críticas surgiriam ao modelo, principalmente por parte dos educadores que não têm segurança em trabalhar sem uma grade de conteúdos. Perceba que em algum momento a decisao de como se faz educação, passa pela insegurança daqueles que conduzem o processo. Faz-se necessário inovar, se o desejo é melhorar.

           A Medicina UFSCar fez uma vasta pesquisa nos modelos educacionais existentes antes de definir como seria o seu modelo. Os critérios que marcam a escolha do método estão intimamente ligados às características do profissional que se pretende formar. Nossa formação se dá dentro dos problemas que vamos enfrentar, temos contato com a vida real desde o primeiro semestre do curso. O curso não dá margens para isso ser diferente.

           Existem grandes chances de você não ter tido um Ensino Médio baseado em problemas, mas isso não significa que a sua formação superior tenha que ser da mesma forma. Aulas de anatomia e fisiologia? Ou problemas que me levam ao conhecimento destas áreas? Depende do método que você escolher.