quarta-feira, 6 de junho de 2012

Aprendizagem baseada em problemas

     Quando pensamos em Medicina, pensamos nas aulas de anatomia, de fisiologia e no tamanho da memória dos estudantes que deverão lembrar os nomes das estruturas e dos processos do corpo humano para fazer as provas. Entrar em contato com um curso que trabalha a aprendizagem por meio de problemas significa entrar em um novo universo.

     Imagine um ensino médio em que você não tem "aulas" mas encontros em grupos de 10 alunos sentados em torno de uma mesa oval, como aquelas mesas de reunião que vemos nos filmes. Junto com estes 10 alunos vamos colocar um especialista em problemas que irá propor a seguinte situação.

     Uma cidade de 10 mil habitantes, localizada à margem do Rio Tacunã, tem sua economia baseada na agropecuária. Com a expansão desta atividade, o abastecimento de água da cidade, que utiliza o Rio Tacunã, ficou comprometida. A água passou a apresentar altos níveis de contaminação porque o gado invadia a margem do Rio para beber água. Os gastos com saúde no município aumentaram muito.

      Depois de lido o caso, o papel dos alunos era levantar os problemas relacionados à situação descrita. Alguns problemas foram facilmente apontados, outros exigiram a intervenção do facilitador.

      "O aumento de casos de doenças, tem impacto sobre os impostos?"
      "A invasão da margem gera algum outro problema?"

      Os alunos teriam liberdade total para discutir os aspectos geográficos, biológicos, sociais, químicos, históricos e muitos outros relacionados à situação. Muitos dos pontos levantados geram uma situação de desconforto. Veja dois exemplos de perguntas que podem surgir na discussão dos alunos:

          "Que tipo de doença alguém pode contrair bebendo água contaminada pelo gado?"
          "Quais os fenômenos físicos e químicos associados ao processo de purificação da água?"

         Neste primeiro momento, não haverá resposta, haverá apenas o desconforto causado pela falta do conhecimento. Após este encontro, fica combinado que os alunos terão 3 dias para buscar informações em diversas fontes com o intuito de eliminar as lacunas que surgiram. Depois desta busca de 3 dias, haveria um novo encontro em que os alunos apresentariam os resultados de suas pesquisas e construiriam juntos o conhecimento para resolver a situação problema apresentada.

            Imagine um Ensino Médio inteiro sendo feito deste modo. Será que daria certo? Será que ao final o aluno seria capaz de resolver uma equação de 2º grau, ou reconhecer um poema do trovadorismo? Nesta estrutura ele não teria aulas de Matemática ou Literatura, como garantir que ele aprenderia o conteúdo? O principal indicador de aprendizado deste aluno, seria a capacidade desenvolvida para aprender e utilizar o conhecimento. Muitas críticas surgiriam ao modelo, principalmente por parte dos educadores que não têm segurança em trabalhar sem uma grade de conteúdos. Perceba que em algum momento a decisao de como se faz educação, passa pela insegurança daqueles que conduzem o processo. Faz-se necessário inovar, se o desejo é melhorar.

           A Medicina UFSCar fez uma vasta pesquisa nos modelos educacionais existentes antes de definir como seria o seu modelo. Os critérios que marcam a escolha do método estão intimamente ligados às características do profissional que se pretende formar. Nossa formação se dá dentro dos problemas que vamos enfrentar, temos contato com a vida real desde o primeiro semestre do curso. O curso não dá margens para isso ser diferente.

           Existem grandes chances de você não ter tido um Ensino Médio baseado em problemas, mas isso não significa que a sua formação superior tenha que ser da mesma forma. Aulas de anatomia e fisiologia? Ou problemas que me levam ao conhecimento destas áreas? Depende do método que você escolher.



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